Archive for janeiro, 2011

Novas pesquisas revelam o perfil do público jovem

janeiro 14th, 2011    Posted in Sem categoria
 

O consumo audiovisual ainda é maciçamente feito pela televisão, mas cada vez mais espectadores migram para a internet, principalmente os mais jovens. Segundo a terceira edição da pesquisa “O Futuro da Mídia”[1] (TELA VIVA, 2009), que, pela primeira vez, inclui o Brasil no quadro de países participantes, que tem ainda Estados Unidos, Japão, Alemanha e Grã-Bretanha, os entrevistados passaram três vezes mais tempo por semana conectados à Internet do que assistindo televisão. A pesquisa diz ainda que o Brasil apresenta crescimento em termos de consumo de mídia, sendo que os consumidores gastam 82 horas por semana utilizando diversos tipos de mídia e tecnologias de entretenimento. Para a maioria dos pesquisados, o computador superou a televisão em termos de entretenimento. 81% consideram o computador um meio de entretenimento mais importante que a TV.

Pesquisas periódicas realizadas pela Datafolha para a Folha de São Paulo e Editora Abril (MEIO & MENSAGEM, 2009)[2], revelam que 45% dos jovens entre 12 e 30 anos entrevistados em 2000 diziam preferir a TV, quando em 2009 este índice caiu para 33%, embora ainda seja majoritária. O uso da internet subiu de 66% em 2005 para 86% em 2009. Deste universo, 64% dos jovens acompanham notícias pela TV e 68% pela internet. No horário nobre, 33% elegeram a TV aberta como meio preferido para se informar e 26% a internet. Na pesquisa “Media Democracy” (TELETIME, 2010), realizada nos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido e Brasil[3], foram ouvidas cerca de nove mil pessoas, que retrataram os hábitos de consumo de mídia e de tecnologia. Dentro deste grupo de entrevistados, os jovens brasileiros de 14 a 26 anos disseram usar tanto o computador quanto a TV para assistir a vídeos: 56% assistem vídeos pela TV e 54% assistem pelo computador. Além disso, 87% assistiriam a mais vídeos na internet se a conexão fosse melhor.

O canal Nickelodeon divulgou essa semana os resultados da pesquisa Geração 5.0 – Os novos pilares da infância, na qual aborda os temas alimentação, atividade física, sustentabilidade, criatividade e diversidade, dentro do universo infantojuvenil. Entre os principais resultados revelados, está o dado de que o Brasil é o país da América Latina onde menos se pratica esporte nas escolas. O jovem brasileiro também é o que menos se preocupa com o meio ambiente e a sustentabilidade, em relação aos países vizinhos. Além disso, menos de 39% das crianças do País tiveram contato real com a diversidade. A pesquisa completa encontra-se no endereço: www.mundonick.com/geracao5


[1] No Brasil, foram ouvidas 1.022 pessoas, com idades entre 14 e 75 anos.

[2] Universo de 8 milhões de jovens em 9 cidades de 12 a 30 anos – idade média de 21 anos. 5% classe A, 37% classe B e 58% classe C.

[3] No Brasil, foram ouvidas 1.346 pessoas na faixa etária de 14 a 75 anos.

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JOGADA DE CRAQUE

janeiro 11th, 2011    Posted in Contos Curtos
 

bola

Inácio lembrava com orgulho seus tempos de atleta. Nunca foi profissional, mas, no futebol de quarta-feira, destacava-se pelo fôlego. Quando perdia, criava confusão se fosse escolhido para sair e dar a vez para o time de fora. Virava goleiro só pra ficar em campo. Inácio gostava de quando chovia. Muita gente faltava e a briga pra ficar em campo era menor. Bons tempos de atleta viveu Inácio.

Hoje, nove anos depois, casado e com a cintura bem maior, Inácio trabalha pra manter a casa. Seu esporte oficial passou a ser a sinuca. Joga religiosamente todas as quintas. Inácio ainda briga pra ficar na mesa quando perde. É um atleta.

O grupo da sinuca sofreu uma baixa. O Velho Antunes, tradicional conselheiro da turma, decidiu aposentar-se. Reclamava que não tinha mais idade pra ficar na fumaça do salão e que, mesmo as partidas, já não lhe davam tanta alegria. Decidira que no seu aniversário de 79 anos levaria um bolinho feito por sua filha mais nova e faria uma despedida em alto estilo. Embora tenha chegado a pensar que, com o grupo menor, sua permanência na mesa aumentaria, Inácio sentiu a saída de Antunes. Pensou no dia em ele mesmo deixaria o esporte e tratou de erguer seu chope para propor um brinde. Antunes merecia.

A vaga de Antunes foi preenchida na semana seguinte por Rogério. O rapaz, sobrinho do Lima, um dos fundadores do grupo, foi convidado. Um convite da diretoria deve ser acatado, mesmo contra vontade de alguns. Inácio não gostou muito. Rogério, apesar do bom desempenho na sinuca, era diferente do resto da turma. Aguardava sua vez calado, bebia refrigerante light, jamais trapaceava. Um dia comentou que, com a sinuca nas quintas, teria atividade para toda as noites da semana. Nadava nos dias pares, jogava bola nas terças e, agora, sinuca nas quintas. Inácio quis saber mais sobre as terças:

- E o futebol? Salão?

- Society.

- Sete pra cada lado?

- Seis na linha e um no gol.

- Quantas de fora?

- Uma. Incompleta.

Aquilo fez a cabeça de Inácio funcionar. Perdeu a partida de sinuca e, para o espanto do grupo, aceitou esperar a próxima sem reclamar. Queria pensar um pouco sobre suas próprias terças. Apesar de estar fora de forma, seus trinta e cinco anos garantiam uma chance de recuperação. Se participasse de um futebol regularmente largaria o cigarro, cuidaria da dieta. Chegou a sentir-se meio ridículo, mas soltou as palavras como quem pula de pára-quedas. De uma vez. Sem pensar:

- Ô, Rogério! Tem lugar pra mim nesse futebol?

- Claro! Trinta reais por mês pra pagar a quadra – Respondeu enquanto mirava na bola azul.

- Terça, tô lá!

Inácio passou o fim-de-semana como criança na véspera de natal. Sábado, no restaurante à quilo, trocou a carne por um frango grelhado. Decidira levar a sério o projeto de voltar a ser um atleta. Não resistiu ao pudim de sobremesa, mas o projeto ainda estava começando.

Na terça Inácio fez piada no trabalho sobre os gols que faria. Lembrou dos gols que já tinha feito dez anos antes. Descreveu jogadas com riqueza de detalhes para diversão de alguns e tédio de outros. Pediu pro chefe para sair um pouco mais cedo naquele dia. Tinha um compromisso. O chefe liberou.

Na escolha dos times, Inácio foi o penúltimo escolhido. Rogério o escalou num gesto político. Seu novo companheiro de sinuca merecia estrear na pelada jogando.

A bola saiu com o time adversário. Inácio, na posição de zagueiro fixo, largou a defesa e correu pra marcar em cima. Se sobrasse pra ele, quem sabe um gol? Sentiu a perna mais pesada do que esperava já na primeira corrida. Quando perguntado se não era melhor voltar pra defesa, concordou com um gesto. Não conseguiria falar. O ar parecia faltar e, enquanto caminhava de volta para o seu campo, ainda pode ver o golaço do outro time. Goleiro driblado, deitado no chão. Tentou não escutar as reclamações, concentrou-se em normalizar a respiração e esperou atento pelo próximo ataque.

Numa dividida no meio de campo a bola espirrou limpa para os pés de Inácio. Ele parou a pelota com o pé esquerdo e, num segundo, planejou um ataque de dar inveja ao Real Madri. Respirou fundo e partiu corajoso. Inácio retirara forças da alma e, com elegância discordante com seu corpo, driblou o primeiro adversário, correndo pela lateral direita. Fez menção ao cruzamento, forçando a parada do zagueiro do outro time. Num golpe de agilidade, Inácio seguiu avançando com a bola. Seu próprio time estava surpreso. Um craque.

Diante da área inimiga, trocou a bola de pé. O gesto deslocou um zagueiro e deixou o caminho aberto para um goleiro com cara de assustado. Não havia deixado o gol e aguardava atento o chute do estranho atacante. Inácio preparou uma bomba, mas, ao chegar com o pé na bola, fez uma pausa, esperou o goleiro pular e, em seguida, deu toquinho de cobertura com categoria, guardando a bola no fundo da rede. Antes de comemorar, Inácio sentiu o ar lhe faltando. Seu time pulava à sua volta e ele tentava sorrir. Antes de cair deitado, ajoelhou-se e sorriu levando a mão ao peito. Inácio fez uma jogada de craque. E não precisaria mais deixar o campo até a chegada da ambulância. A de fora, era dele.

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